quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

CINQUENTA TONS DE SOLIDÃO OU COMO COMECEI A GOSTAR DE APANHAR

Não sento em frente ao computador para escrever desde os tempos da faculdade, na época eu alimentava um blog com alguns textos de ficção e pensamentos sem sentido, tudo escrito sob forte efeito de álcool e maconha. Recentemente voltei a sentir a necessidade de escrever, talvez porque eu venha me sentindo, constantemente, presa num dos meus contos depressivos e mal escritos da época da UERJ ou talvez porque eu só precise compartilhar histórias da minha vida com desconhecidos.
Meu casamento terminou quando eu tinha pouco mais de trinta anos e não houve traições ou grandes brigas, nós, apenas, não nos suportávamos mais. Iniciei, então, uma árdua jornada de reconstrução da minha vida. Eu não sabia mais como fazer para existir como indivíduo, passei muito tempo vivendo como casal, me sentindo um casal, agindo como casal. De repente estava morando sozinha e sentindo dificuldade para lidar com tarefas simples do cotidiano, coisas que eu havia terceirizado nos últimos anos, como por exemplo, pedir água mineral, demorei dois meses para conseguir ligar para o moço da água. Mas viver sozinha é mais do que aprender a fazer tarefas corriqueiras é, sobretudo, aprender a lidar com a SOLIDÃO. Logo comecei a chorar todos os dias ao acordar e em pouco tempo eu já precisava despertar uma hora antes para poder chorar e ainda ter tempo de me vestir para o trabalho. Ao final do primeiro mês após o divórcio minhas pálpebras estavam tão inchadas que meus olhos ficavam constantemente semicerrados.
Instalei o Tinder. Era bem complicado manter um diálogo com desconhecidas após o match, eu sou uma completa analfabeta social, passei a maior parte da minha vida trancada no meu quarto lendo, não sei como iniciar um flerte, não tenho histórias empolgantes para contar, eu nunca nem saí do Rio de Janeiro, sou muito apegada a minha rotina (acordo, leio, vou para o trabalho, chego em casa, como, leio e durmo cedo) e a ideia de viajar sempre me pareceu um desperdício de dinheiro e de tempo, prefiro gastar tudo o que me sobra com livros. Lembro-me que em certo diálogo pelo chat do Tinder uma menina, fã de Star Wars, me perguntou o que achei de O Despertar da força e eu respondi que achei medíocre, ela nunca mais falou comigo, acho que até me bloqueou.
Confesso que por algumas semanas eu fiquei obcecada com o aplicativo. Toda aquela solidão que eu sentia num apartamento vazio de objetos, mas cheio de lembranças da minha ex mulher começou a ser amenizada pelas breves conversas no aplicativo de encontros. Logo comecei a sair com algumas meninas.
Eu não ficava confortável fora de casa por muito tempo, sofro de Transtorno de Ansiedade generalizada e muito tempo na rua me causava crises de pânico, não era algo bonito de se ver, os encontros acabam sendo breves e invariavelmente terminavam na minha casa. Como boa taurina eu gostava de sedução e, para mim, não bastava só transar, eu tinha que servir um bom vinho tinto, colocar uma música no Spotify, levar café da manhã na cama, mas nada disso me garantia uma ligação no dia seguinte ou uma mensagem no Whatsapp, estávamos em plena cultura do próximo (foi legal, próximo!), mas eu não conseguia me adaptar a essa cultura,  queria continuidade, queria andar de mãos dadas, queria dar flores, queria companhia enquanto eu lia. Foram duas, três, quatro, cinco, perdi a conta de quantas garrafas de vinho comprei, de quantas vezes lavei taças, de quantas bandejas de café da manhã conduzi até a cama, com o tempo eu já evitava chamar as meninas pelo nome para não me confundir. Eu me sentia cada vez mais só, cada vez mais entediada, até os gemidos delas, (eu não sentia nada, o antidepressivo e o antiansiolítico já me davam todo o prazer que eu precisava, eu acho) começaram a me entediar, com o tempo eu torcia para a roupa de cama não ficar muito molhada para eu não ter que me dar ao trabalho de lavar. Distribuindo mais alguns coraçõezinhos no Tinder conheci Karine, Chamei para sair, levei ao meu apartamento, música, vinho, comida, cama. Quando ela estava gozando apertou meu braço tão forte que eu quase gemi (de dor) e imaginei que fosse ficar roxo e ficou. No dia seguinte fiquei observando aquela mancha roxa no meu antebraço e, pela primeira vez, desde que entrei no Tinder, tive a sensação de que aquela menina havia me deixado alguma coisa (ela também não ligou e respondeu friamente as minhas mensagens), mas ela havia me marcado, era como se aquela mancha roxa dissesse: alguém esteve aqui. E um novo ciclo se iniciou, logo comecei a procurar por meninas que gostavam de ser um pouco mais “violentas” na cama. No começo eram só alguns hematomas pelos braços, pernas, alguns chupões. No trabalho eu justificava as marcas roxas dizendo que foi minha cadela pulando em mim, que eu cai bêbada, que fui arranhada pela minha gata idosa. Eu sentia como se tivesse meu próprio Clube da Luta, não me importava mais em não receber ligações ou mensagens, eu gostava de ficar observando as marcas, sentindo aquela dorzinha por algum tempo, por alguns dias às vezes, gostava do desenho que os arranhões produziam no meu corpo, um dia eu pude jurar que a constelação de touro foi formada nas minhas costas por uma generosa quantidade de sangue coagulado. Eu não sentia prazer na dor, não era masoquista, eu me sentia menos só ao me olhar no espelho. Alguém esteve ali, alguém tocou e marcou aquele flácido corpo de uma mulher sedentária de trinta anos que passou a maior parte da vida trancada no quarto lendo.
Logo me peguei pesquisando sobre BDSM no Google, entrando em grupos de sadomasoquismo, comprando brinquedos masoquistas em lojas online. Pela primeira vez em alguns meses eu finalmente consegui estabelecer alguma rotina na minha nova vida.
Talvez eu fosse só muito covarde, não tinha coragem de me machucar e ficava procurando pessoas que pudessem fazer isso por mim.  Quando estamos muito deprimidos a dor física nos parece uma alternativa a dor da alma, uma possível saída dos labirintos da nossa mente para a vida real.  E foi nessa busca que conheci a Clara. Mais uma vez iniciei o meu ritual: vinho, música, comida, cama. A Clara era o tipo de garota privilegiada, branca, cabelos longos, loura, olhos claros, magra e, aparentemente de classe média alta. Além de muito bonita demonstrava bastante cultura e um excelente domínio da língua portuguesa, isso me encantou. Eu estava (quase) feliz por ter alguém com quem conversar por algum tempo. Foram quase duas horas de conversa no meu sofá até ela se convidar para a minha cama. Foi maravilhoso ver aquela mulher linda gozando na minha boca várias vezes e gemendo loucamente enquanto me arranhava toda, eu teria lembranças físicas por semanas. Lá pelas três horas da manhã adormeci, mas meu sono era muito leve e inquieto, com qualquer barulho eu despertava. Naquela noite não foi diferente, acordei e dei de cara com a Clara já vestida colocando objetos da escrivaninha na sua bolsa, perguntei o que estava havendo e ela pulou como os gatos fazem quando estão assustados, enfiou a mão no fundo da bolsa e sacou algo que nunca vi tão de perto: um revolver. Eu estava nua na minha cama e uma garota desconhecida (será que Clara era mesmo o seu nome? Sempre quis dizer isso) estava apontando uma arma para mim, definitivamente eu havia enlouquecido e estava presa num dos meus contos da época da graduação, da época em que eu sonhava em ser escritora, antes de eu virar Escriturária do Banco do Brasil e passar os meus dias desbloqueando senhas de idosos e tentando bater metas. Não fiquei com medo em momento algum, eu estava num dos meus contos, estava segura. Ela começou a caminhar em direção a porta da sala e eu lentamente fui atrás, lembro dela me pedindo a chave e eu, calmamente, retirando-a do meu porta chaves LOVE e depositando-a na sua mão direita. Tranquei a porta após ela sair, voltei para a minha cama e dormi, apenas no dia seguinte quando despertei e dei falta do meu tablet, meus cartões de crédito, uma pequena quantia em dinheiro que eu deixava na gaveta da escrivaninha e alguns objetos de decoração que percebi que foi real, que eu não estava vivendo num conto, que eu estava fodida, que eu estava toda machucada física e emocionalmente. Comecei a rir, logo estava gargalhando e gargalhando, mandei uma mensagem para a minha gerente dizendo que eu não poderia ir e continuei gargalhando por umas duas horas.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Custo Benefício


Imagem: http://browse.deviantart.com
Estudou o prédio por alguns segundos e conferiu o número no pequeno pedaço de papel que trazia na mão direita. Entrou na construção, apertou o 15º com a ponta da unha vermelha do indicador. No amplo elevador conferiu o rosto oval, o cabelo levemente despenteado, a boca colorida com um batom vermelho, ajeitou os cabelos, sacou da bolsa o pó compacto e deu um pequeno retoque. Não queria parecer louca. Saltou no 15°, seguiu o longo corredor em busca da sala 1303. Parou por algum tempo em frente a porta de madeira branca ao lado de uma outra com um adesivo vermelho escrito em letras brancas “Sex Shop Prazer Ardente” com certa hesitação conferiu o relógio de pulso, estava no horário. Apertou a companhia da sala 1303.
De dentro da sala surgiu um homem de camisa social, jeans e belos sapatos de couro. A fez entrar e se sentar confortavelmente num sofá marrom. Um pouco tímida, mas decidida a lhe fazer um resumo de sua biografia. Passou rapidamente pela infância no interior, os anos de escola, das paixões obsessivas, da adolescência solitária, da faculdade que não fez, dos dois casamentos fracassados, dos cigarro, do vício em tranquilizantes e vinho, da falta de sentido do mundo. Omitiu o fato de que tentara cortar os pulsos há duas semanas, seria muita informação para um primeiro encontro.
O homem a observava com interesse e assentia com a cabeça. Teceu alguns breves comentários que ela ouviu atentamente.
“Percebo que você é existencialista. Os existencialistas sofrem muito”, de sofrimento ela entendia bem. Era experiente na arte de sofrer e de causar sofrimento.
“Percebo que você não está dando conta de tudo sozinha”, ela não queria estar sozinha, preferia está dividindo o seu sofrimento com alguém, mas não conseguia ficar mais que dois ou três anos com o mesmo homem. No começo tudo era muito bom, mas com o passar do tempo os sentimentos começavam a se decompor como se estivessem sendo corridos por vermes. Todas as pessoas a enfastiavam após algum tempo de convivência. A intimidade destruía tudo.
“Não ofereço uma cura e sim um tratamento”, a ideia de se tratar para o resto da vida não a agradava muito.
Aproximadamente uma hora depois ele pergunta se gostaria de voltar e ela quer saber o valor.
“ São duzentos reais por consulta”
Ela fez um rápido cálculo mental, olhou para a ampla janela do iluminado consultório, levantou-se calmamente girou o tronco, deu um certo impulso e pulou. Por uma fração de segundo se sentiu quase feliz, estava fazendo a melhor escolha. O enterro sairia mais barato que o tratamento sem garantia de cura. Trinta segundos após o salto seu corpo desabou sobre um Fiat Uno 86.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Em linha reta


Embarquei no ônibus em direção a minha casa (pelo menos eu suponha que era para minha casa). Entrei com certa dificuldade, dei o dinheiro ao motorista (tem troco?) tinha sim, recebi o troco, sem conferir coloquei no bolso, atravessei a roleta com certa dificuldade motora. Uma velha amarelada me olhava torto do acento amarelo, sentei no primeiro lugar vazio que consegui focalizar.Acho que o ônibus começava a se mover…

Auto peças 7 léguas, Coca-cola 2L 5,50, casas a partir de R$ 250,00 mil (a partir com crase; casas duvidosas). Assembleia de Deus com acento (o acento caiu, mas a igreja continua de pé). Cachorro-quente Self- service do Marcão 2,50, Galeto girando na padaria, ponto de ônibus, gente com cara de papel, gente com cara de pinel, gente com cara de gente, gente com cara de cachorro, gente, gente diferente, criança com caixa de drops, mulher com a cara ciscada de pés de galinhas vendendo cocada num tabuleiro, em breve um apart hotel aqui, mais uma igreja, escola Municipal Metodista (pensei que o estado fosse laico), fábrica de móveis Nogueira, cão magro revirando o lixo, Sorveteria Moleka, muros sem reboco, pontos de ônibus sem placa; tudo acordado cordialmente com o motorista, rua vazia no domingo, boteco. Parecia a minha rua…será?

Puxei a cordinha, desci. Batuque na igreja “boia, boia, boia, boia! ou seria glória, glória, glória”; não, acho que eles precisam mesmo é de boia.
Andar em linha reta
Andar em linha reta
Linha reta 

Os vizinhos não podem perceber, andar… em linha reta… vamos pernas, colaborem comigo, andar em linha reta. Não, não, o muro de chapisco não. ANDAR EM LINHA RETA. Vamos pernas colaborem comigo é preciso preservar a imagem. 

É preciso preservar a MINHA imagem.
Andar em linha reta…

Abrir o portão sem demora, abrir o portão com a chave. Que chave? A chave do bolso. Que bolso? O bolso do jeans. Chave furando a virilha, chave para fora do bolso, alívio, alívio na virilha, chave no portão, gira, gira, gira. Abriu? Treque. “Abri sim” Disse o portão amarelado, pichado, maltratado, mijado.

“Entre”. Continuou o portão. Entrei. Linha reta, linha reta pernas. Vamos, vamos. Beco comprido, comprido, difícil morar numa avenida, os becos são sempre compridos. Abre a porta da casa, chave? Está junto com a outra. Coloca, gira, não gira, não deu certo, tira a chave, troca a chave, deve ser a outra, gira, gira. Abriu. Cadeira; mexeu com um encontrão, desvia, desvia. Miua !!!!! Pisei no rabo do gato branco.


Entrei em casa, estou segura e livre.
Segura e livre
Segura e livre
Miau, pisei no rabo do gato preto
Segura, segura e deita no colchão velho e fedido.
Todo o  universo rodopia sem sair do lugar.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

De pressão




Nasceu de 9 meses e 11 dias em cima de uma mesa de tábua numa maternidade pública, sem chorar, respirava, mas não chorava, o médico que fez o parto (o favor de segurá-lo para que ele não caísse no chão, o resto a natureza fez sozinha) lhe aplicou uma, duas, três palmadas com virilidade, na terceira o bebê chorou e todos ficaram aliviados, estava vivo. 

Foi crescendo sempre muito calado, chorava pouco, comia pouco, se mexia pouco. Aos 7 anos foi obrigado a frequentar a escola primária de seu bairro. Não entendia a necessidade de relacionamento com outras pessoas. Fazia suas atividades sozinho sem dizer palavra. Com o tempo o seu comportamento solitário começou a chamar a atenção da professora que precisava gritar com todas as crianças para que calassem a boca, menos com ele. 

Após conversar com a diretora a respeito do caso do garotinho decidiram por enviar um bilhete à mãe da criança sugerindo que ele fosse examinado por um médico.
A mãe procurou o posto de saúde, explicou a situação ao clínico geral e este diagnosticou rapidamente.

“Esse menino sofre de pressão, a pressão dele é muito baixa. Veja só está 8x6”

Receituário
1 colher de sal embaixo da língua 3x ao dia

A mãe, cuidadosa, seguiu o tratamento a risca, a vida do filho ficou mais salgada e ele permaneceu no seu estado constante de anedonia. Observava as crianças sorrindo, pulando, chorando, fazendo contato físico. De nada daquilo ele entendia. Sentir nada sentia, apenas frio, calor, fome, vontade de fazer cocô, xixi. O que as pessoas chamavam carinho, amor, amizade, solidão, paixão ele não conseguia compreender. 

Andava pela escola sempre com o seu potinho de sal, recomendação do médico, sempre que ele se sentia muito letárgico colocava sal embaixo da língua. O que lhe rendeu o apelido de Salgadinho. 

Salgadinho aos 15 anos se masturbava pelo menos 3x ao dia, mas nunca havia nutrido nenhum tipo de sentimento amoroso por ninguém, não gostava nem da própria mãe.  Certo vez voltando da escola com um colega que insistia em lhe acompanhar todos os dias entendeu, enfim, a insinuação de “Quero te comer” nos olhos e no rubor da face do adolescente magrelo, rosto perfurado por espinhas, mãos grandes, pau médio. Pensou “por que não?”

Chegou com o colega em casa, nunca havia levado ninguém lá, subiram para o quarto, disse a mãe que iriam fazer um trabalho. Fizeram sexo. O coração de Salgadinho bateu, bateu, a pressão subiu, o sangue correu, escorreu…gozou de verdade pela primeira vez. 

“você está bem?”

“Sim. Eu só sofro de pressão. Vai para casa, sua mãe deve está preocupada”

A partir desse dia fez sexo com quase todos os alunos da sua escola (homens e mulheres), Salgadinho era um adolescente bonito, branco, olhos claros, barba rala, magro, cabelos negros encaracolados, rosto quadrado, lábios grossos, pau grande, sexo era a sua a arte, a oitava arte, nele conseguia se expressar com maestria; era um virtuoso da oitava arte. Sentia-se vivo, mas após gozar voltava para a anedonia de sempre.

 Concluiu o ensino médio, tornou-se michê, esculpiu o corpo a ferro e bomba, viajou muito, cheirou muito, trepou muito, tudo sempre amplificado e sem chão, sem razão, sem emoção, mecânico;  uma ausência de si. Parecia que tinha engolido uma pedra, uma pedra de gelo, havia uma pedra de gelo dentro dele, talvez um iceberg inteiro. 

Continuou a sofrer de pressão, mas as drogas amenizavam o problema, quanto mais chapado melhor, parecia que assim conseguia sentir algo e sentia mesmo, sentia a cabeça girando e girando, caleidoscópios, cacos multicoloridos espalhados por todos os lados, estava no paraíso, um paraíso artificial, mas era um paraíso. 

Vendo todas as cores do mundo, sentindo o coração bater forte e quase sentindo amor; amor pela morte; amor pela dor que já, já iria cessar. Com o corpo mole, com a cabeça desgovernada, sem ossos, ele SENTIU, ele sentiu tudo que nunca sentira, finalmente curado do problema de pressão.
 Morreu de overdose aos 27 anos.


domingo, 7 de julho de 2013

Noir, no ar




 
Tum… tum… tum… tum, tum, tum tum, tum, tum, tum, tum, tum, tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum tum !!!!
Eu sentia a minha veia coronária gritar, eu não cabia em mim, era tudo muito barulhento na minha cabeça, era tudo muito barulhento no meu peito, que batucava, batucava, batucava. Angústia, angústia… angústia, tum, tum, tum no peito, eco na cabeça, vácuo na cabeça…tum, tum no peito. Vácuo na cabeça. Sentia o mundo em mim, mas não me sentia no mundo. Onde está a minha linha? Eu não sei… O mundo em mim sem eu no mundo, o mundo em mim, mas eu não estava no mundo. Bolinhas roxas, roxas, roxas. Eu andava, andava, andava muito. Estava cansada daquele deserto de bolinha roxas, daquele tum tum dos infernos, do eco na cabeça, de não estar no mundo. Andava, andava, andava. Boca seca, tum tum no peito, eco na cabeça, não estava no mundo e o mundo estava em mim. Andava depressa, agora eu corria, corria, corria. Boca seca, tum tum no peito, eco na cabeça, não estava no mundo e o mundo estava em mim com bolinhas roxas. Corria, suava, suava. Boca seca, tum tum no peito, eco na cabeça, não estava no mundo e o mundo estava em mim com bolinhas roxas. Corria, ofegante, suada, boca seca, tum tum no peito, eco na cabeça, não estava no mundo e o mundo estava em mim com bolinhas roxas. Corria, ofegante, suada, cabeça contra o espelho, tum tum no peito, eco na cabeça, não estava no mundo e o mundo estava em mim com bolinhas roxas. Corria ofegante, cabeça sangrando, tum tum no peito, eco na cabeça, não estava no mundo e o mundo estava em mim com bolinhas roxas. Corria ofegante, sangrando, suada, tum tum no peito, eco na cabeça, não estava no mundo e o mundo estava em mim com bolinhas roxas. Corria ofegante, sangrando, suada, mensagem de texto chegou, tum tum no peito, eco na cabeça, não estava no mundo e o mundo estava em mim com bolinhas roxas. Corria ofegante, sangrando suada, procurando o celular, tum tum no peito, eco na cabeça, não estava no mundo e o mundo estava em mim com bolinhas roxas. Corria ofegante suada, sangrando, lendo mensagem de texto, tum tum no peito, eco na cabeça, não estava no mundo e o mundo estava em mim com bolinhas roxas. Corria ofegante, suada, sangrando, não conseguia enxergar a mensagem de texto, tum tum no peito, eco na cabeça, não estava no mundo e o mundo estava em mim com bolinhas roxas.Corria ofegante, suada, sangrando, espelho partido, não enxergava a mensagem, tum tum no peito, eco na cabeça, não estava no mundo e o mundo estava em mim com bolinhas roxas. Corria ofegante, suada, sangrando, espelho partido, não enxergava a mensagem, tum tum no peito, eco na cabeça, digitei Help me no Google, não estava no mundo e o mundo estava em mim com bolinhas roxas. Corria ofegante, suada, sangrando, espelho partido em quatro partes disformes, não enxergava a mensagem e nem o meu rosto vermelho sangue, tum tum no peito, eco na cabeça, o Google me respondeu Lexotan, não estava no mundo e o mundo estava em mim com bolinhas roxas…flutuando.